Messias Bandeira assume a Direção do IHAC

Messias Bandeira assume a Direção do IHAC

Messias Guimarães Bandeira (Diretor) e José Aurivaldo Sacchetta (Vice-Diretor) tomam posse no IHAC. #

Discurso de Messias G. Bandeira, novo Diretor do IHAC/UFBA

Reitoria da UFBA, Sala dos Conselhos, 9 de julho de 2013.

​A Universidade Federal da Bahia tem cumprido um papel histórico no ensino superior brasileiro. Desde a fundação, suas contribuições ao desenvolvimento do país e ao pensamento brasileiro são reconhecidas por todos, tornando-a uma instituição singular: formação cidadã e presença social são resultantes do empenho de sua comunidade na construção coletiva do conhecimento.

O processo de democratização no acesso ao ensino superior no Brasil, ocorrido nos últimos dez anos, passa, necessariamente, pelas importantes contribuições da UFBA. A ampliação das vagas, as políticas de ações afirmativas, o regime de cotas, os programas de estímulo à permanência na universidade, paralelamente a importantes políticas de expansão das universidades, somam-se às recentes decisões tomadas pela UFBA, especialmente no que diz respeito a nossa adesão ao ENEM e ao SISU (Sistema de Seleção Unificado), criando um novo capítulo na história do ensino superior na Bahia e no Brasil.

Os Bacharelados Interdisciplinares em Artes, Ciência e Tecnologia, Humanidades e Saúde, enquanto importante vetor de expansão desta universidade, articulam, desde 2009, um novo conjunto de esforços, oferecendo rubricas pedagógicas inovadoras, mas, também, conformando todo um contingente de estudantes, funcionários e professores devotados à construção de uma universidade mais aberta, democrática, em plena sintonia com a sociedade. Hospedados no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos-IHAC, os Bacharelados Interdisciplinares, por meio de uma nova arquitetura de formação universitária, conferem à nossa universidade mais um elemento distintivo de sua dimensão no ensino superior brasileiro. Em conjunto com as demais unidades universitárias da UFBA — as quais irrigam nossos bacharelados com sua experiência acadêmica — estamos construindo um cenário alvissareiro para a educação no estado e no país.

A transformação em andamento se dá para além dos aspectos quantitativos. A inclusão de pessoas no ensino superior, o papel indutor à cidadania oferecida pela universidade e o empoderamento social dos nossos estudantes são alguns dos traços que — entre outras experiências da nossa universidade — projetam o IHAC numa tela onde qualidade acadêmica e inclusão social se relacionam. 

Todos nós temos a tarefa de tornar a universidade um ambiente estimulante ao trabalho intelectual rigoroso, edulcorado pela criatividade da nossa comunidade, sustentado nas demandas sociais por desenvolvimento. Mas é no sujeito que reside o substrato de cada mudança, instituindo o inafastável cadenciamento entre conhecimento, universidade e sociedade. Como disse Milton Santos, em discurso nesta Universidade, ao sugerir a passagem de uma “situação crítica” para uma “visão critica”:

“Há que partir da existência como pedagogia… Os passos de vida são o da experiência sempre renovada, essa experiência existencial que deveria ser o fundamento da nossa teorização, ao invés de estarmos […] copiando de fora a interpretação do que somos; [experiência] que permita a reavaliação das heranças e a indagação serena e exaltada, sempre que necessário, sobre o presente e sobre o futuro”[1].

Estivemos envolvidos (eu o Professor Sacchetta, bem como toda a nossa comunidade), nestes quatro anos de funcionamento do IHAC, com importantes projetos de implantação e consolidação do instituto junto à universidade. A condução dos expedientes acadêmicos, a estruturação das atividades de planejamento, a organização do conjunto normativo dos bacharelados, a participação nos conselhos superiores da universidade, a presença em sala de aula e fora dela, o acompanhamento dos estudantes de graduação e pós-graduação, as atividades de pesquisa e extensão, a formatura das primeiras turmas, os processos de reconhecimento dos cursos, entre outros aspectos, representaram, a cada momento, um novo desafio tamanha a inovação introduzida pelos bacharelados interdisciplinares na UFBA.

Ouso dizer que, com a nossa assunção à gestão, o IHAC vislumbra um novo ciclo de consolidação e crescimento, sem deixar de considerar as importantes contribuições dos Professores Albino Rubim e Sergio Farias (Diretor e Vice-diretor, respectivamente) no período 2009-2010, e de Sergio Farias e Marcio Nascimento (Diretor e Vice-diretor, respectivamente) no período 2011-2013. O professor Albino foi responsável pelo momento de implantação deste grandioso projeto, e tive a oportunidade de compartilhar daquela gestão na condição de coordenador acadêmico do IHAC. Somos gratos por sua visão estratégica, atuação sistêmica e capacidade de articulação, elementos que, agora, corroboram sua atuação na Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. O Professor Sergio Farias desempenhou, antes mesmo do funcionamento do IHAC, um importante trabalho de estruturação do instituto, junto ao Prof. Naomar de Almeida (a quem faço uma saudação especial pela determinação e concepção deste projeto). A experiência acadêmica e o conhecimento da vida universitária do Prof. Sergio Farias foram fundamentais à superação de inúmeros obstáculos que enfrentamos. E toda a Comunidade do IHAC é grata por sua dedicação ao projeto. Espero poder continuar contando com o apoio destes professores neste novo ciclo do IHAC.

Por sua vez, é hora, também, de introduzir não apenas um novo horizonte de gestão, mas, sobretudo, agir com sabedoria diante  da missão que nos é apresentada. Assumimos, assim, o compromisso de honrar o desafio, honrar o nome de Milton Santos, honrar a confiança dos colegas estudantes, dos colegas funcionários e dos colegas professores. Como já disse, vocacionados a uma transformação da experiência universitária, os Bacharelados Interdisciplinares — juntamente com as demais unidades da UFBA — podem contribuir para um novo momento da nossa universidade.

Esta será uma gestão cujo código-fonte estará aberto, com um diálogo permanente com nossa comunidade universitária e também com a sociedade. Vamos “hackear” aquele modelo de produção de conhecimento distante e impessoal, convocando nossa comunidade através da multivocalidade e de uma gestão em rede. Esperamos continuar contando, também, com os apoiadores tradicionais e vamos auscultar aqueles que nos apresentam questionamentos, pois, sem dúvida, oferecem oportunidades de olhares diferenciados sobre nossa missão.

Se é verdade que a universidade é lugar de saber, espaço da cultura, também é verdade que é o ambiente da diferença, da fricção e, certamente, do entendimento, pois, como já disse Habermas,

“o que importa ao mundo da vida é o papel pragmático de uma verdade bifronte, que serve de intermediária entre a certeza da ação e a assertividade discursivamente justificada”[2].

A Universidade pode ser, ao mesmo tempo, lócus do rigor de pensamento e ambiente da generosidade acadêmica. Por isso, queremos uma UFBA cada vez mais protagonista do pensamento intelectual brasileiro, presente na sociedade e integrada às principais questões que se endereçam ao nosso entorno.

Para tanto, é importante destacar que o IHAC é um instituto sem muros, não encapsulado no ciclotímico exercício da vida acadêmica que, não raramente, nos induzem ao sectarismo intelectual. Não somos uma unidade insular na UFBA. Tampouco somos uma universidade dentro de uma universidade, como alguns se referiam ao IHAC na partida do nosso projeto. Este é um instituto da UFBA e da sociedade, contando com 4.000 estudantes (em sua maioria, egressos de escolas públicas), 54 professores e 24 funcionários, quatro bacharelados, 4 áreas de concentração próprias e inúmeras áreas de concentração promovidas em conjunto com outras unidades. Contamos com programas PIBIC, PET, PET Indígena e ACCS, dois programas multidisciplinares de pós-graduação (mestrado e doutorado em Cultura e Sociedade e mestrado em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade, com um terceiro programa em fase de avaliação, o mestrado em Relações Internacionais), diversos grupos e núcleos de pesquisa, centenas de atividades de extensão e um elenco de eventos que oxigenam nossos cursos.

Se os números nos parecem superlativos, a missão que se avizinha é desafiadora. Estejam certos do nosso compromisso e esperamos que nosso trabalho possa repercutir as expectativas que se inscreveram em nossa campanha.

PRINCÍPIOS E VALORES DA GESTÃO

A elaboração do nosso plano de trabalho foi orientada por princípios e valores, dentre os quais, destacamos

  • a institucionalização de processos
  • o compartilhamento de experiências
  • o associativismo no cumprimento das tarefas
  • o diálogo permanente com a nossa comunidade
  • a interdisciplinaridade e o sincretismo como elementos essenciais à formação de pessoas, mas, também, aos nossos expedientes ordinários de atuação.

 EIXOS

Em nossa proposta de trabalho, ainda estabelecemos quatro eixos sobre os quais estão assentadas as nossas atividades, a saber:

  1. inovação acadêmica, por meio de rubricas pedagógicas transformadoras e que considerem o cenário contemporâneo do mundo acadêmico e do mundo do trabalho;
  2. articulação interinstitucional, uma vez que somos dependentes das demais unidades universitárias quanto à oferta de componentes curriculares e de diversas experiências de formação que aquelas oferecem; dependemos, também, da plena sintonia com a sociedade e não abriremos mão da consulta permanente a todos os setores que nos são caros enquanto vetores de formação;
  3. avaliação permanente de nossas atividades, como forma de eventuais correções de rumos, com transparência administrativa e atuação ética, a exemplo das gestões que nos antecederam;
  4. investimento na formação interdisciplinar, não como exclusividade do nosso instituto, mas um processo amplo de recursividade, interação, e, porque não, fricção, multirreferencialidade e modelagem de conteúdos formativos

A condução de um projeto desta magnitude exige um arco de atuação que transborda nossas fronteiras institucionais. Assumimos a gestão do IHAC com importantes desafios junto à nossa comunidade, à universidade e à sociedade. Assim, buscamos exercer a liturgia do cargo como forma de expressão máxima de servir à nossa comunidade. Destacamos, ainda, algumas propostas que compõem nossa agenda de trabalho:

  • Revisão dos projetos político-pedagógicos dos bacharelados interdisciplinares
  • Criação de um núcleo de extensão e cultura
  • Avaliação dos programas de cursos
  • Integração de programas de pós-graduação multidisciplinares ao IHAC.
  • Avaliação docente
  • Redimensionamento do funcionograma da unidade
  • Programa de acolhimento aos estudantes
  • Elaboração de um PDI próprio, mas articulado ao PDI da UFBA.
  • Ampliação do uso de recursos tecnológicos no apoio à gestão e às atividades de formação e pesquisa, entre outros elementos.

Enfim, queremos, também, pensar o IHAC enquanto um “hackerspace”, um ecossistema de estímulo a práticas e experiências. O detalhamento do nosso plano de trabalho encontra-se disponível para consulta no site do instituto.

Antes de encerrar, preciso agradecer a muitos por este momento.

  • Ao Prof. José Sacchetta, vice-diretor, por compartilhar este desafio, na certeza de que iremos trilhar um percurso harmonioso.
  • À Comunidade do IHAC (colegas estudantes, colegas funcionários e colegas professores) pela confiança em nossa proposta de trabalho e pelo carinho que recebemos nesta caminhada.
  • À administração central da UFBA, à Reitora Profa. Dora Leal Rosa e a seus Pró-Reitores pela dedicação em conduzir nossa universidade rumo a uma instituição reconhecida no país.
  • Ao corpo de diretores das unidades universitárias, grupo ao qual me integro neste momento e nele espero continuar meu aprendizado nesta universidade.
  • Ao conselhos superiores da UFBA, especialmente ao CAE, onde convivi por quase dois anos.
  • Aos centros Acadêmicos do IHAC (Artes, Ciência e Tecnologia, Humanidades e Saúde) pela interlocução desde o primeiro momento.
  • Ao Diretório Central dos Estudantes, com o qual tenho compartilhado a convivência, por meios de seus representantes, no Conselho Acadêmico de Ensino.
  • Aos ex-estudantes do IHAC que, hoje, estão em cursos de pós-graduação da própria universidade, no mundo do trabalho e em cursos de progressão linear da nossa UFBA, aqui representados por muitos, a exemplo de Renata Leahy, Rico Soares, Brisa Moura etc.
  • À comissão responsável pelo processo de consulta para a direção do IHAC.
  • À minha Família, minha mãe Dulce Guimarães, meus tios Solange e Deba, a Cristiane que me acompanha nesta e em muitas jornadas.

Reunimos neste sala, alguns colegas e amigos que foram meus professores. Aliás, destaco a presença da Profa. Mariagusta Rocha, importante nome da educação baiana, amiga, colega e minha diretora quando fui estudante do então ensino primário no Centro Integrado de Educação Anísio Teixeira, no bairro da Caixa D’água. Meu também Professor Emiliano José, deputado federal e tantos outros que aqui estão.

Por fim, quero manifestar que estamos aqui pelo respeito a este legado da universidade, mas, também, por uma UFBA revigorada. Estamos aqui por uma experiência transformadora de vida universitária, por um processo mais inclusivo de pessoas no ensino superior e no exercício do direito à educação. Estamos aqui para atender ao chamado de nossa comunidade para a gestão do IHAC no período de 2013 a 2017 de maneira incondicional. Todos já sabem que fomos às ruas não apenas por vinte centavos. Portanto, é meu dever declarar: “é por tudo que estamos aqui”. Viva o Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos! Viva a Universidade Federal da Bahia!

Muito obrigado.

Salvador, Palácio da Reitoria da UFBA, 9 de julho de 2013.

Messias Guimarães Bandeira

  


 [1] SANTOS, M. Aula inaugural do semestre letivo de 1999 da Universidade Federal da Bahia. Seminário “Milton Santos e o Brasil”, Salvador, 17-19 jul. 2002, p. 10. Disponível em <http://miltonsantos.com.br/site/wp-content/uploads/2011/04/Aula-inaugural-do-ano-letivo-de-1999-da-UFBA_MiltonSantos.pdf>. Acesso: 02.07.13.

 [2] HABERMAS, J. Verdade e Justificação: ensaios filosóficos. São Paulo: Loyola, 2004, p. 249.